Em 22 de abril de 1500, a esquadra de Pedro Álvares Cabral, que saíra de Portugal com destino à Índia, descobriu o Brasil. Essa é a versão “oficial” da História, ensinada e repetida por muitos de nós. No entanto, o aniversário de mais um “Descobrimento” nos convida a refletir: foi isso mesmo que aconteceu?
A verdade é que, quando o primeiro português pisou o solo brasileiro, no sul da Bahia, a região posteriormente demarcada como Brasil já tinha pelo menos três milhões de habitantes. Desta forma, cresce a cada dia o entendimento de que não se tratou de descobrimento, e sim de invasão ou conquista. Como afirma o professor de História Paulo Chaves: “Na realidade, Portugal não descobriu o Brasil; ele ocupou, invadiu, submetendo dessa maneira diversas nações indígenas. Se o Brasil já possuía uma população indígena, local, não se trata de uma descoberta, e sim de uma conquista.”
Portanto, 22 de abril é uma data em que devemos, antes de tudo, reconhecer a legitimidade da presença indígena por aqui – e sua importância na construção dessa história e na formação do nosso povo.
O território onde hoje é o estado de Pernambuco era povoado por diversas tribos indígenas, como caetés, cariris e tabajaras. Dentre os grupos que habitaram o estado identificou-se a tradição cultural Itaparica, responsável pela confecção de artefatos líticos lascados há mais de 6 mil anos. No Agreste Pernambucano, conservam-se pinturas rupestres de aproximadamente 2 mil anos atrás, atribuídas à subtradição denominada Cariris velhos.
A história dos indígenas na região de Pernambuco é, desde 1500, marcada pela resistência – para preservar seu território, seus costumes, sua língua, sua liberdade. Um exemplo é de 1645, quando, unidos a escravos negros, indígenas da região de Casa Forte enfrentaram os holandeses que invadiam suas terras.
Em 1683, iniciou-se outro momento de luta: a Confederação dos Cariris. Foi quando algumas tribos indígenas como os Cariris, Crateús e Cariús se uniram para atacar os colonizadores portugueses, que ocupavam terras para agricultura e pecuária. Os indígenas só foram derrotados 30 anos depois, quando os portugueses trouxeram bandeirantes paulistas para reforçar o outro lado.
E mesmo com tantas provas de que os indígenas são os legítimos donos do Brasil, é triste constatar que ainda hoje há conflitos relacionados a territórios. É o caso dos Kapinawá, no Vale do Catimbau, entre o Agreste e o Sertão de Pernambuco. Até o começo dos anos 80, eles não eram reconhecidos oficialmente como indígenas. Sua história é marcada pela luta pelo território e pela perseguição por parte de latifundiários da região. Por serem terras produtivas e ricas em água, o território habitado pelos indígenas sempre atraiu muita atenção dos fazendeiros e posseiros.
Por tudo isso, sempre é tempo de se fazer justiça. Reconhecer os direitos dos primeiros habitantes dessa terra é obrigação. Protegê-los é o mínimo que o Estado deve fazer. Em uma época de tristes notícias envolvendo os indígenas, como o descaso com os Yanomâmis em Roraima recentemente descoberto, é preciso reparar uma dívida histórica do país com seus povos originários. E compreender corretamente o significado da data de hoje é um importante passo nesse sentido.